Revolução Digital: Como a Indústria 4.0 Está Transformando o Setor Metalmecânico
A tecnologia é a síntese do desenvolvimento industrial. Descobertas de novos processos e produtos escalonaram padrões e redefiniram ritmos da manufatura ao longo da história, criando diferentes perspectivas da relação entre trabalho, sociedade e progresso.
Do uso da força braçal ao protagonismo das máquinas a vapor, a tecnologia ditou o percurso da indústria. E ainda o faz. No desenrolar da chamada 4ª revolução industrial, acompanha-se a implementação de fluxos que imprimem ao chão de fábrica uma nova identidade projetada pelos conceitos da era da transformação digital.
É a indústria 4.0, que se consolida à medida que soluções inovadoras expandem a automação e a eficiência do sistema fabril. Dados da agência de consultoria International Market Analysis Research and Consulting (IMARC) analisados pelo Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estimam que o mercado brasileiro da indústria 4.0 chegou a US$ 1,77 bilhão em 2022, com reais possibilidades de alcançar a cifra de US$ 5,62 bilhões em 2028.
As somas mensuram o poder de competitividade de complexos manufatureiros a partir da capacidade de integrar tecnologias avançadas e processos baseados em dados – a essência dos conceitos que caracterizam uma fábrica inteligente em seus mais diferentes setores, incluindo o metalmecânico.
As tecnologias da indústria 4.0
A lista destas principais tecnologias de consolidação da indústria 4.0 é bastante vasta. Robótica, modelos de simulação digital e computação em nuvem estão entre os sistemas da nova engrenagem fabril, aos quais se juntam outros recursos de importância fundamental.
“As principais tendências tecnológicas que estão impactando o setor são, sem dúvida, a automação, a internet das coisas (IoT), a fabricação aditiva, a nanotecnologia, a inteligência artificial (IA) e análises de dados”, diz André Odebrecht, presidente da Câmara de Desenvolvimento da Indústria Metalmecânica da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc). “Já é possível automatizar diversos processos de produção, como soldagem, corte, usinagem e montagem. Robôs são usados para automatizar tarefas de fabricação que são perigosas, repetitivas ou difíceis de realizar manualmente, como pintura e montagem de peças”, acrescenta.
Tal como no início do século, pensar na indústria 4.0 segue sendo, para a sociedade em geral, imaginar plantas fabris “do futuro”, onde escalas de produção digitalizada dividem espaço com máquinas robóticas operando à frente nas linhas de montagem. Por isso, automação é um conceito tão característico da manufatura avançada – é impossível prever o dia a dia de uma fábrica inteligente sem sistemas automatizados.
A adoção de soluções para automatizar métodos produtivos – sejam elas máquinas ou softwares – facilita o desenvolvimento de modelos industriais mais estratégicos e pragmáticos, o que cria rotinas mais articuladas dentro das fábricas. Com o avanço da inovação em velocidade recorde, catalisado por demandas de mercado e também pela escassez de recursos e matérias-primas, a prática da automação tem se valido de ferramentas cada vez mais sofisticadas, como a própria robótica. Definidos pela Confederação Nacional da Indústria como “mecanismos automáticos que utilizam de circuitos integrados para realizarem atividades e movimentos humanos simples ou complexos”, os robôs são uma aposta dos setores manufatureiros e devem ter seu uso disseminado principalmente pelo fortalecimento dos recursos de inteligência artificial.
Inteligência artificial e análise de dados
No espaço da Indústria 4.0, modelos baseados em algoritmos que simulam a capacidade humana são considerados fundamentais para otimizar processos. A adoção da IA na rotina fabril facilita desde tarefas simples, como suporte e atendimento aos clientes, até as mais complexas, como a manutenção preditiva inteligente (MPI), capaz de antecipar falhas em máquinas e equipamentos.
Um relatório de 2023 do Boston Consulting Group (BCG) em parceria com o Fórum Econômico Mundial mostrou que, no Brasil, 65% das empresas de manufatura já utilizavam pelo menos uma aplicação de IA em sua produção.
O conceito de IA está diretamente ligado ao novo papel dos dados na transformação digital. As tecnologias de inteligência artificial organizam e analisam grandes volumes de dados gerados pelos serviços digitais, desempenhando tarefas estratégicas nas fábricas inteligentes. A IA e a análise de dados otimizam processos de produção, preveem a demanda de mercado, otimizam cadeias de suprimentos, melhoram a manutenção preditiva, detectam anomalias, aumentam a eficiência energética e ajudam a criar novos produtos.
A geração de dados também é favorecida pela Internet das Coisas (IoT). A adoção da IoT no setor de manufatura alimenta modelos de automação, onde máquinas e sistemas fabris se conectam para agilizar e melhorar a atividade industrial. Por meio da IoT, podemos conectar máquinas, equipamentos e sistemas na fábrica, permitindo a coleta e análise de dados em tempo real para otimizar processos e tomar decisões mais informadas.
Nanotecnologia e fabricação aditiva
A lista das tecnologias habilitadoras da indústria 4.0 avança ainda no contexto de novas formas de desenvolvimento e diversificação de produtos.
A fabricação aditiva facilita a impressão em 3D de metais, como peças com geometrias complexas. O recurso tem ganhado espaço em laboratórios de pesquisa por sinalizar a capacidade de maximizar a eficiência fabril ao mesmo tempo em que torna os fluxos produtivos mais sustentáveis, assim como a nanotecnologia.
A aplicação tecnológica em escala nanométrica deriva produtos e processos diferenciados para uma gama de setores, como a indústria farmacêutica, de alimentos, de cosméticos e a metalmecânica. Já chamada de recurso do futuro, a nanotecnologia chegou a alcançar visibilidade institucional no Brasil. Em 2013, o país implementou a Iniciativa Brasileira de Nanotecnologia (IBN), que, em 2019, alcançou status de política pública ao ser instituída como o principal programa brasileiro de incentivo à nanotecnologia.
Novos modelos de negócios
Há quatro anos, a ROMI , fabricante de máquinas líder na indústria metalmecânica, lançou seu serviço de locação de máquinas, denominado ROMI MAAS (Machine as a Service).
Atualmente, a ROMI possui cerca de 800 contratos de locação de máquinas, com a expectativa de fechar de 20 a 30 novos contratos por mês. A empresa tem avançado significativamente em sua abordagem de servitização de máquinas, expandindo o serviço para os Estados Unidos e o México.
A servitização não apenas resultou na locação de máquinas, mas também inaugurou um novo modelo de negócio para a Romi. A empresa testemunhou uma impressionante taxa de retenção de clientes após o término dos contratos de locação. Apenas cerca de 2-3% dos clientes devolveram suas máquinas antes do término do contrato.
70% dos clientes MaaS seguem como clientes ROMI após o fim dos contratos iniciais de locação.
Com um custo a partir de R$ 30,00 por hora, empresas podem acessar máquinas ROMI de última geração. A ROMI oferece uma ampla gama de equipamentos para aluguel, incluindo Centros de Usinagem, Centros de Torneamento, Tornos CNC, Injetoras para Plásticos e Sopradoras. Os planos de locação variam de 200 a 350 horas por mês, com contratos de 12 a 24 meses.
Atualmente, 20% das máquinas produzidas para venda são destinadas à locação, representando um segmento significativo do negócio da Romi.
A conectividade é essencial para o sucesso desse modelo de negócio, permitindo monitoramento remoto, diagnósticos antecipados, atualizações de software e análises de dados através de hardware de conectividade nas máquinas industriais.